Fracassos na carreira: a importância da vulnerabilidade na entrevista de emprego
Aprender com os erros parece ter se tornado um discurso comum nas palestras motivacionais, nas capas de revista e nos aconselhamentos de carreira. Se por um lado estamos quase cultuando o erro para aprender fazendo, por outro, ainda somos condicionados a ver nossos fracassos, vulnerabilidades e pontos de melhoria como uma fraqueza que deve ser escondida de nossos colegas de trabalho, liderança e gestores. Continuamos presos na glamorização do sucesso, onde dar certo ainda é o único caminho possível, principalmente quando o assunto é carreira.
Estamos em uma sociedade onde o sucesso é a meta e é fácil perceber a maneira como glorificamos as coisas boas e mascaramos os acontecimentos negativos. Abra sua rede social, qualquer uma delas, nenhum dos seus amigos (e nem você), quando vai postar fotos de sua última viagem, escolhe os momentos onde algo deu errado! Pelo contrário, externalizamos apenas aquilo que é glorioso, fazemos uma edição dos melhores momentos, ou pior, sorrimos para a foto mesmo quando a festa está entediante!
A cultura do sucesso fica ainda mais evidente durante os processos seletivos. Os profissionais que estão buscando uma recolocação contam suas histórias e cases de maneira heroica e quase nunca vemos um profissional realmente expondo suas fraquezas e vulnerabilidades. Eu entendo. Esse é um momento delicado e a pessoa acredita que, ao expor seus erros e fracassos, ela será desclassificada do processo.
Nesse sentido, até o fracasso só é aceitável quando “no fim” tudo dá certo. Contar as derrotas faz parte da jornada do herói, mas os profissionais só se expõem dessa maneira quando ele cumpre o arco completo e vence, superando os obstáculos. No entanto, a vulnerabilidade é o único caminho possível para que o candidato se mostre verdadeiramente e consiga se expor, mostrando quem ele realmente é e não quem ele acredita que precisa ser!
A pesquisadora norte americana Brené Brown dedicou mais de 20 anos de pesquisa e coleta de dados para entender como as pessoas se relacionam, se conectam e em quais momentos da interação essas conexões são reais e profundas. O resultado da pesquisa mostra que, somente após você se expor de maneira real, com todas as suas imperfeições, sucessos e fracassos, é possível criar vínculos de confiança e construir um relacionamento humano verdadeiro.
O processo seletivo, a entrevista principalmente, é um lugar de relacionamento humano. O recrutador senta na mesa com o candidato para conhecer a pessoa que está ali, e esse processo se torna muito difícil quando, do outro lado, o candidato está tentando mascarar e esconder seus erros e suas vulnerabilidades. Precisamos descontruir a ideia de que a entrevista é um palco onde o candidato precisa performar e brilhar. Ela, na verdade, é um canal de relacionamento para nos conhecermos. É papel do recrutador encontrar esse ponto de contato, unir as habilidades técnicas ao perfil de comportamento e personalidade. Bons recrutadores são empáticos com o candidato e entendem que exige coragem e autoconhecimento para se expor verdadeiramente.
Manter o candidato confortável é uma premissa básica dos processos seletivos aqui na Trend Recruitment. Como parte de nossa cultura, temos como um de nossos valores mais essenciais “sermos humanos”, no sentido de que valorizamos as pessoas em todas as fases dos nossos processos e as acolhemos com humanidade e respeito,. Outra premissa básica que assumimos é ajudar o profissional. Sempre durante a entrevista, se o candidato faz algo que não é muito legal, apostamos em feedbacks construtivos, mostrando pra ele o quanto aquela postura, atitude e fala podem ser interpretadas de maneira errada. Às vezes, é difícil ouvir um feedback, mas precisamos aprender a ressignificar esses momentos como uma oportunidade de melhoria e não como uma crítica a quem nós somos.
Mudar nosso mindset em relação aos erros e fracassos de carreira não é uma tarefa fácil. O erro é desconfortável e frustrante, mas a vulnerabilidade é o caminho para sermos autênticos. É preciso olhar sob uma nova perspectiva, observando como esses momentos te transformaram como pessoa, o quanto você aprendeu sobre si mesmo, sobre seu trabalho ou sobre como fazer melhor da próxima vez. Não descarte os fatores que te trouxeram até aqui, acolhendo de fato que tudo o que você viveu te moldou como pessoa. É muito importante ouvirmos esse lado humano dos candidatos durante a entrevista e até observar como eles constroem a narrativa dessa história. Gostamos muito quando vemos que os profissionais são capazes de rir sobre determinados fracassos e que acolheram determinados momentos com humildade e como aprendizados importantes.
Eu só me encontrei profissionalmente aos 31 anos. Meus objetivos, sonhos para a carreira e mesmo a minha motivação são dedicadas a metas que eu não sonhava em ter quando comecei minha jornada profissional. Minha dica para os profissionais que estiverem buscando uma recolocação é para que sejam autênticos, entreguem-se para o processo. Se a vaga for sua em termos de habilidades técnicas e comportamentais, mostrar-se de maneira verdadeira é o melhor caminho para conseguir esse emprego. Assuma isso para além da entrevista de emprego. Tenha coragem pra ser quem você realmente é.